quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

QUANDO É QUE A EDUCAÇÃO SE TORNA ESPECIAL?

Só quando comecei a sair do meu gabinete, a organizar grupos de pais, a visitar os meus clientes nas escolas e a liderar reuniões de consultoria com os professores do Ensino Regular, que me apercebi daquela que penso ser a principal razão para se ter que adjetivar de Especial a Educação das crianças e jovens com perfis divergentes de desenvolvimento, comportamento e/ou aprendizagem. É que na grande maioria das vezes as pessoas estão focadas nos problemas, nos sintomas, nas dificuldades; e não nas pessoas, nas crianças e jovens por detrás dessa máscara de características menos boas. Pessoalmente acredito que a Educação Especial não é a Educação das crianças e dos jovens ditos “especiais”.
A Educação Especial é a Educação que transmitem os bons Educadores a TODAS as crianças e jovens: quando criam disponibilidade para ouvir; quando dão tempo para responder; quando aceitam e partilham ideias; quando chamam a atenção para o que é importante sem impor “o que é importante”; quando motivam e fomentam o empreendedorismo (sobretudo nas pequenas coisas do dia-a-dia); quando valorizam os pequenos e os grandes feitos; quando atribuem responsabilidades e exigem responsabilidade; quando valorizam o espírito de comunidade e de equipa; quando estimulam a vontade do conhecimento e da exploração; quando se zangam nos momentos e nas proporções certas; quando abraçam, piscam o olho, ou simplesmente partilham um sorriso cúmplice no momento certo. Enquanto seres humanos temos o dever de fazer sentir a todos os que estão à nossa volta, que são Especiais: porque são únicos, nas suas virtudes e defeitos; porque dão sentido à nossa vida, ao que somos e ao que fazemos.
É que a primeira técnica que deveremos aprender enquanto seres em crescimento é a “técnica” da relação. Esse é o verdadeiro desafio. Ensinar uma criança autista a comunicar adequadamente; um jovem delinquente a ser assertivo e a respeitar os outros; ou uma criança disléxica que FACA se escreve F+A_C+A… é fácil; é objetivo e igual no Algarve, nas Ilhas ou no Minho. Fazer os outros sentirem-se especiais e sentirmo-nos nós próprios especiais é uma experiência única, autêntica, que exige disponibilidade, humildade, vontade de saber mais e o risco… de nos darmos à relação com os outros (de sermos felizes e de nos magoarmos).
Francisco Lontro

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